Quando nasci em 2007, dum parto a 3, (a saber: maria kuak, nck e kok), nunca pensei ter vida para além de meia dúzia de meses. E no entanto, e apesar da minha descrença, aqui estou com 15 anos no bucho em resultado do apoio de muitos amigos que por aqui vão deixando comentários, e da teimosia dum galo cujas ideia e imaginação já conheceram melhores dias (e noites). Em todo este tempo encontrei muitos blogs; alguns perderam-se nas ruas blogosféricas mas outros há que ganharam espaço e vão-me acompanhando apesar das minhas irregulares e prolongadas ausências "textuais". Considerando que tudo tem o seu tempo é certo que o meu já não será muito mais longo, que isto de viver encafuado num galinheiro e estar dependente da vontade dum galo não deixa grandes prespectivas de continuidade; todavia nunca se sabe o dia de amanhã sem o vivermos, por isso... até amanhã.
Nas duas últimas semanas o meu mundo encolheu de repente, sem aviso. Nestas duas últimas semanas dois dos meus amigos (aqueles amigos de bairro que nos acompanham desdeà séculos), finaram-se!
Foi o virus19? Não, foi o coração de cada um deles com mais de 70 anos.
O meu mundo encolheu de dois amigos que deixaram vazios dois lugares na mesa do café. Deixaram dois lugares vazios nas diferentes opiniões que (à vez) tinhamos, (políticas, futebolisticas e outras mais) e que sempre nos divertia mais do que nos chateava. Nestas duas últimas semanas, nós os que cá ficamos morremos duas vezes, porque quando morrem os amigos também nós morremos um pouco.
Num velório recordámos a vida de um na presença de outro que poucos dias depois esteve na mesma situação. Só me ocorre dizer: F...
Por sugestão de uma AMIGA (que se lembrou do tempo em que os nossos treze anos não eram condicionados por selfies nem pelas diversas e variadas aplicaçõns hoje tão vulgarisadas), fui buscar ao baú a minha foto (de fotógrafo) dos meus longínquos 13 anos. Olhando-me fico com a ideia de não ser eu que ali estou; mas sou! Algo se perdeu pelo caminho em todos os anos passados? Tudo depende da perspectiva, né? Haverá quem prefira esta mostrada dias atrás!! "Ele" há gostos para tudo.
de súbito caiem-nos em cima, uma após outra, três semanas de dor, tristeza, revolta e raiva porque não estávamos à espera, porque consideramos que é uma injustiça, porque não queremos que aconteça apesar de sabermos que, mais tarde ou mais cedo, vai acontecer. Desta vez fui eu o escolhido e nem sei porquê pois normalmente e pelo que sabemos os escolhidos são (ou têm sido) seres tementes a Deus e a outras temências de que desconheço mais de metade.
Vamos lá ao cronológico da coisa começando pela última semana:
III
Hoje morreu o Jack (um caniche)! Depois de catorze anos vividos com os pais adoptivos (a Patrícia e o Nuno) e que sempre o acarinharam e lhe deram a liberdade necessária à sua condição, nunca lhe sonegando os passeios diários pelas redondezas e que ele aproveitava para se libertar dos produtos que quer o intestino, quer a bexiga, estavam decididos a expulsar e faziam-no com regularidade diária.
II
Na segunda semana e ainda não refeito da primeira foi-se o Abel, um amigo de muitos anos (+ de 40), que de manhã e do “lado de lá” do balcão me servia o café (bica para uns e cimbalino para outros). Não será difícil termos como amigo alguém que durante anos e todos os dias nos atura todas as manhãs; mas que sistematicamente o faça com um sorriso nos olhos e um jovial “bomdia” obriga-nos a (forçou-me a) olhar o Abel para além do balcão que, na verdade nunca nos separou; pelo contrário. E foi este amigo que se foi. Não estava doente mas pelos vistos não é imperativo estar doente para morrer.
I
Era uma tarde como outras. O sol brilhava, a temperatura não era muito alta e o vento timidamente fazia esvoaçar as muitas folhas secas caídas sobre a erva que ladeava os caminhos terrosos que percorrêramos de manhã e que agora repisávamos mais lentamente por carregarmos o cansaço do dia. À chegada alguém pergunta: vocês viram a Fernanda?
Olhámos uns para os outros (interrogativos e ar de meio aparvalhados) procurando uma resposta que ninguém tinha. As questões sobrepunham-se e as resposta não surgiam.
-Temos que voltar para trás;
-Temos que a procurar;
-Temos...
E fomos, e procurámos e nada de Fernanda. Até que alguém questionou:
-Mas ela foi connosco?
Atónitos e incrédulos afirmámos que sim mas, sinceramente, sem grande convicção. E a verdade é que ela não tinha ido connosco e ninguém tinha percebido. Na azáfama daquele passeio a pé preparado ao pormenor com meses de antecedência, nenhum de nós (nessa manhã) deu pela falta de uma amiga que na noite anterior nos dissera:
-Não me me sinto muito bem; vou-me deitar cedo. E foi!
Morreu durante a noite, acreditamos que calmamente sem perceber que morria.
Mas não é justo!
Não é justo perdermos amigos apesar de sabermos que nalgum momento os perderemos e, também, que nalgum momento eles nos perderão.
Com tantas semanas que há no ano para acontecerem coisas, tinham que me acontecer estas 3 em 3 semanas seguidas?
Inopinadamente, na passada semana, fui invadido em simultâneo por amigos (que encontro irregularmente em separado, ou, dito de outra maneira, "à vez" ), e que acharam por bem juntarem-se e tirarem-me de casa para uma noite evocativa, uma réplica de há uns longínquos anos atrás (documentada em imagem) cujas memórias se misturam entre acordes mais ou menos musicais, diversos odores etílicos e fumaradas de incensos de origens variadas.Evidentemente que aceitei a proposta (não tinha nem desejava outra alternativa) e lá fomos decididos e dispostos a enfrentar a efeméride.
Faltaram as violas, felizmente, porque já nenhum tem unhas para tais instrumentos!
Quando inicialmente entramos nesta coisa do virtual é como se caíssemos numa festa onde não conhecemos ninguém. Porém, logo depois, é como se todos se conhecessem. Falamos com este e com aquele, ouvimos esta e mais a outra, e passado algum tempo vemo-nos envolvidos com aquela e aquele, falamos do que nos apetece e discordamos do que não concordamos, rimo-nos das parvoíces de alguns, das nossas e das dos outros, e porque todos nos respeitamos as amizades inicialmente virtuais vão-se transformando gradualmente nas reais amizades que nos unem, (quem diria), somente porque existe uma blogosfera que é uma espécie de sala de encontros para desconhecidos.
Havia outra hipótese de tu e eu nos conhecermos? Não sabemos! Mas decerto que perderíamos a hipótese de nos encontrarmos se a tal blogosfera não tivesse surgido e nós não nos tivéssemos interessado por ela. Agora já não há nada a fazer para inverter a situaçõn. E particularizando a nossa situaçõn devo referir que depois do 1º encontro (em Lisboa) e no decorrer dos anos que se passaram (foram 6?, foram 7?) quero dizer-te do muito que te admiro e que o tal respeito é a maior e melhor base para se edificar uma relação amizade, a nossa amizade! Talvez não nos voltemos a encontrar (há quem afirme que é possível contudo eu não embarco numa dessas; todavia e não vá o diabo tecê-las) mas se tal acontecer já sabes que te pespegarei com um monumental XÔXO e + Akele abraço pah!
§-este ano trocaste-me as voltas: desta vez em que eu estava preparado (contra o que é habitual) para te dar os parabéns na data exacta de completares mais um aniversário, partiste. Estou magoado meu amigo, e não é porque as velas do bolo continuam acesas. Estou magoado porque... olha, porque sinto a falta física de um amigo que não devia ter partido de Ermesinde com bilhete só de ida.
Fiquei à dias a saber da existência daAssociação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa. E também fiquei a saber que a respectiva direcção é composta por familiaresvivos de dirigentes socialistas (uns mais próximos que outros). Estranhei o facto não tanto pela composição dos dirigentes serem "da mesma familia" mas sobretudo por haver uma entidade oficial amiga dos cemitérios de Lisboa (há também de outros locais???), sobretudo por ainda estarem vivos! Decerto que aos mortos tanto se lhes dá (acredito eu) que os cemitérios tenham amigos, mas isso não é estranho? A mim parece-me que é. Mesmo sendo um caso de criação de "jobs for the boys" (incluiem os mortos?) não é um abuso? Consta que é para dinamizar os cemitérios. Consistará em matinés dançantes e/ou noites temáticas entre defuntos? Ocorre-me perguntar: os mortos foram consultados? Estou mortinho por saber!
Este ano 2018 não tem sido nada que preste (à excepçõn do facto relevante -e que bastante valorizo- de estar vivo). Numa breve reflexão sobre os últimos meses pasmo como tanta coisa desagradável é possível acontecer num curto espaço de meia dúzia de meses. É certo que de trás já se viam alguns sinais mas porra, também não era caso para chegarem todos ao mesmo tempo. Se ainda fosse o euromilhões (onde tenho aplicado irregularmente alguns €uros, vá que não vá; mas qual quê! À parte dois ou três últimos prémios (num total por atacado de 8,14€), nada que se veja de facto. Mas este meu texto não é propriamente para um desenrolar de lamentos; é somente para dizer que ainda estou vivo (àh, já disse ali acima), e sobretudo para agradecer à Janita o post que me dedicou no seu cantinho, e que é 1 mimo, quer o post, quer o cantinho. Obrigado pá!
Estou eu muito descansado na minha aconchegadinha vidinha (não estamos todos?) e eis senão quando dou conta de que o meu mundo está desaparecendo aos poucos, como se fosse um ampulheta de grãos de areia (em cada grão um amigo) onde a vida acontece na parte superior e daí se vai esvaindo para a metade inferior não havendo como voltar atrás, porque não é permitida a rotação da dita ampulheta/vida onde o passar do tempo nada significasse e uma simples inversão permitisse um novo começo. Mas não, não há recomeços! O meu mundo (o nosso mundo) é povoado de amigos, amigos mais ou menos próximos (de proximidades + ou - acentuadas devido às circunstâncias das nossas vidas sem que, por via dessas circunstâncias, as amizades se desvaneçam). Este post porquê?, porque esta semana morreu mais uma parte do meu mundo; morreu-me o Néné (alcunha carinhosa do Carlos Marques), um amigo de 43 anos de idade, uma idade para viver e não para morrer. Foi no Sábado e foi fulminante.
O meu mundo está a mirrar, está a encolher! Nestes momentos penso: serei eu o último a ir-me, a passar-me para esse outro mundo que alguns afirmam ser melhor do que este? Seria como ter este mundo só para mim, seria porém um mundo deserto!
ilustração ampulheta copiada de: andei pensando Gustavo Sirelli