MIGAS, 12 anos: de 2010 a 2022
Tinhas pouco mais de dois meses quando me entraste porta adentro, saltitando por todo o lado e em todo o lado deixando curtas mijas, motivo de risadas das filhas e inevitavel razão para reclamações enérgicas da dona da casa. É certo que tudo o que é pequenino tem graça, (teoria aplicável em algumas áreas, porém sem generalisar porque cada caso é um caso, né?), e tu eras particularmente graciosa e brincalhona e sobretudo uma “fofura” como se pode confirmar nesta foto.
Foste por quase 12 anos uma boa companhia, muito amiga e meiga para quantos de ti se aproximaram e acarinharam. Nunca agrediste ninguém e se ladravas às crianças não era por quereres atacá-las mas por teres medo delas, o que te fez perder muitas festas que elas te queriam fazer. Nos (quase) 12 anos que partilhámos este pequeno apartamento a diversão ultrapassou, de longe, os momentos menos felizes. As saídas diárias à rua foram sempre alegres (descontando a recolha das merdas que libertavas e despresavas ostensivamente confiando que eu jamais as abandonaria no empedrado dos passeios), quando, na praceta sem saída e liberta da trela, iniciávamos a brincadeira, com correrias atrás da bola de ténis que logo apanhavas e vinhas entregar-me para de novo a lançar.
Gostavas de passear de carro e gostavas tanto que quando passavas junto de um carro estacionado e uma porta de abrisse era certo que tentávas entrar; conhecer quem estava no carro era absolutamente irrelevante. Nem sempre os meus pedidos de desculpa eram satisfatórios para quem era alvo “daqueles ataques”, absolutamente inofensivos mas fazer o quê?, né? Há quem goste mais de carros do que de animais.
Alentejana de Santiago do Cacém assim foi baptisada, porque entre nomes como: açorda, gaspacho ou ensopado pensei que migas era a melhor opção. E Migas ficaste.
Não vai ser fácil ultrapassar estes dias mais próximos, sair à rua sem ti, estar em casa sem te ouvir, sem sentir a tua pata a tocar-me no joelho pedindo-me qq coisa ou simplesmente para me “dizer”: quero ir à rua.
Não é fácil não ouvir o “teclar” das tuas unhas no chão da casa, e é estranho não encontrar miolos da ração deixados à porta da cozinha onde tu teimosamente comias, trazendo-a na boca, da malga ali a dois metros.
Haverá quem não perceba que a perda da Migas possa ser assim tão terrível; afinal "era só um cão". Mas não era só um cão, por acaso era uma cadela e era sobretudo uma amiga que no último ano necessitou de cuidados médicos incluindo cirurgias dando entretanto sinais de recuperação, nada se prevendo que piorasse tanto.
Morreu com quase 12 anos.
Não sendo repentinamente foi como se fosse. O desgosto e a dor são grandes; as lágrimas não apagam, e todavia elas correm abundantemente.
Não quero voltar a passar por tamanho desgosto. Não Quero!