ACORDAR CEDO
Hoje acordei cedo quando já era tarde. Acordei com vontade de dormir e sem vontade de acordar para o novo dia de luta, o novo dia de aturar quem tinha que aturar. Acordei desejando que já fosse noite para justificar-me o desejo de voltar a adormecer. Mas o facto é que acordei e não há volta a dar; levanto-me, vou “ali” aliviar-me e lavar-me, “assimilo” a vestuária e junto-me à amálgama de uns tantos outros que, como eu, vão caminhando a favor da corrente que nos leva para o destino pré-determinado, o mesmo que nos obriga a acordar mas que outras tantas vezes queremos não o fazer: nem acordar, nem ir a favor da corrente. Esta noite sonhei (sonho muitas vezes, até de noite quando estou dormindo), que era um faisão, adornado de lindíssimas penas coloridas que se prolongavam numa cauda longa e vistosa, que esvoaçava feliz da vida por sobre uma floresta de coníferas. No céu azul o sol brilhava realçando as infinitas cores da natureza e de repente um som aterrador:
PUM! Uma chumbada acertou-me exactamente na peitaça e que me fez acordar aos gritos:
ASSASSINO, ASSASSINO…
assustando a gata que correu disparada para fora do quarto, e o cão que debaixo da cama ladrou, ladrou exaustivamente até quase manhã.