A TENTAÇÕN de ADÃO
Senti-a chegando, mais do que percebi quando ela se aproximava sorrateiramente, dengosa como sempre, sabendo de como eu gostava de a ter junto a mim, aninhada contra o meu peito sob o meu braço esquerdo, enrolando os seus finos dedos nos pêlos que me cobriam desde junto ao pescoço até para lá do umbigo.
-Trago-te aqui uma coisa que vais gostar, disse-me ela melosa; queres ver?
-Quero sim. (Ora se eu queria ver?, ai não que não queria...)
-Então fecha os olhos e abre a boca, disse-me sorrindo provocadora.
Fechei os olhos, abri a boca e eis que sinto o perfume tentador de uma fruta que há muito tempo não provava.
Num impulso trinquei-a sofregamente saboreando-a com o prazer de sentir o seu sumo inundar-me a boca, a cada dentada! Recordo como se fosse hoje que foi uma delícia trincá-la!
Ainda hoje, passados que são mais de mil milhões de anos, me arrependo daquela trincadela que me valeu ter sido expulso do paraíso pelo dono do pomar, ser obrigado a trabalhar, a alugar casa e a pagar impostos. Todavia continuo a gostar do sabor das chamadas maçãs riscadinhas.