OS "VELHOS" NAS ALDEIAS
Têm sempre muito para contar a quem estiver disposto a ouvi-los, os velhotes.
Sentados no paial da casa térrea, num banco à porta da taberna ou nas bordas do chafariz da aldeia, conversam do tempo, das hortas e das pescas, das maleitas que os consomem e às mulheres, dos filhos que estão lá para as cidades grandes, ou dos netos que virão passar com eles uns dias de férias.
Mas o que eles gostam mesmo é de falar, de contar as suas histórias de vida. Mas falar com quem, se todos se conhecem desde moços, de quando andavam à escola!?
Os olhos riem-se-lhes quando um desconhecido se senta junto a eles e lhes pergunta coisas da terra, e lhes responde ao questionário: o nome, de onde é, o que faz por cá, e então a conversa flui e os relatos de vidas correm com intervenções de todos os presentes, divergindo nos factos algumas vezes e noutras nem tanto:
-Eu fui o primeiro namoro da tua Isabel;
-Foste o quê? Dançaste com ela uma vez e pronto. Isso lá é namoro?
E também quem sempre teve melhores uvas, ou laranjas, ou melancias; e quem tinha apanhado o maior polvo quando fizeram aquele passeio à praia; ou quem foi o rei dos bailes das redondezas, que todos frequentavam já que para isso serviam as bicicletas compradas propositadamente…
Os outros dividem-se nas opiniões e ora apoiam um, ora outro ora ainda um terceiro, sempre com um sorriso cúmplice entre eles, pelo puro prazer da contradição, mais virtual do que real.
No final tudo se acerta, acertado que está desde há anos, e termina a conversa com uma rodada de copos de tinto, um ritual que serve para afirmar que a amizade entre eles continua e que: amanhã cá estaremos para mais histórias, outras ou as mesmas se tal for o caso!
Têm sempre muito para contar, os velhotes das aldeias. Só precisam que os oiçam.