O ESCRITOR
Sentei-me frente à máquina de escrever sem saber o que iria escrever. Olhei as teclas com alguma apreensão sem me decidir em qual delas carregar primeiro. Pareciam-me todas iguais. Os caracteres, evidentemente.
Recostei-me na cadeira, espreguicei-me levantando os braços acima da cabeça e dobrando-me para a frente cruzei-os sobre a mesa e neles apoiei a cabeça.
Pensa, pensa, dizia para mim mesmo. Pensa, caraças…!
Tentava pensar em alguma coisa que pudesse passar ao papel. Mas algo que fizesse sentido e não uma qualquer prosa vazia e completamente sem nexo!
Algo com princípio, meio e fim.
Mas nada!!
Só me vinha à ideia a vontade de me levantar e sair correndo; não, correndo não! Somente sair dali, para o sol ou para a chuva, ou mesmo para o vento; fosse o que fosse que estivesse acontecendo lá fora.
Mas eu tinha que escrever porque esse foi o contracto assumido entre mim e o outro gajo; escrever todos os dias naquela máquina de escrever, independentemente da minha inspiração ou mesmo da minha vontade.
Pois sim!
Como se eu tivesse uma laranja como cérebro que pudesse ser espremida todos os dias e todos os dias tivesse capacidade para deitar um pouco de sumo.
Não! Hoje não escrevo! Hoje só vou escrever o FIM.