Numa manhã de domingo...
...desci a rua calmamente sem destino definido.
Parei no quiosque para ler as “gordas” dos jornais diários e das revistas semanais, expostos, mas sem verdadeiramente ver o que estava lendo; notícias desinteressantes o/ou alarmantes, e mexericos da burguesia que interessariam mais aos visados do que à maioria da população, ainda que, estupidamente, essa maioria de dispusessem a comprar essas mesmas revistas. Vá lá saber-se a razão; possivelmente alimentar-lhes-ia o ego, ou pura e simplesmente a curiosidade …
Ocorre-me uma entrevista televisiva a que tive oportunidade de assistir na qual um editor de uma dessas revistas para homens afirmava: desde que me iniciei nesta actividade e comecei a ler esses artigos, passei a gostar mais de mim! (?)
Que diabo de coisa esta; então o sujeito não teria espelhos em casa?, nem se teria visto numa fotografia?, teria que ler prosas superfluas e ver fotografias fabricadas para, qual Narciso, passar a gostar mais dele mesmo?
Qual será o conteúdo do craneo de uma destas pessoas, para além dum sistema nervoso?
Será que possuem um cérebro em plano inclinado por onde os pensamentos desli-zam sem deixar rasto?
Será que nem um resquício permanece?
Será que cada revista sobre a qual se “debruça”, é uma espécie de lago o qual lhe transmite a formula: não ha mais belo do que tu… ?
Será que são tão castrados de pensamento que assumem serem melhores unica-mente porque se sabe serem habituais compradores dessas revistas e que esse facto, só por si, os obriga a serem melhores?
Será que não conseguem “ver”, e verem-se, para além disso?
Será que não querem ver para além disso?
Será que isso lhes dá um melhor (e maior) estatuto perante a “vulgaridade dos seres menores” que não compram nem leêm essas revistas?
Será que se sentem maiores porque as compram e que ao exibi-las “desplicentemente” dobradas sob o braço, se sentem fazerem parte de um mundo superior?
Será?
Será que são tão imbecis assim?
Ou será que são tão somente, imbecis?
Questiono-me ainda sobre o que produzem.
E produzem?
O quê, para além de futilidades?
Interrogo-me: que tipo de sociedade nos espera, dirigida e/ou influenciada por seres humanos deste teor?