As minhas melhores e primeiras memórias de menino são:
As sardinhas trazia-as o meu avô, directamente de lota; ensinou-me a salgá-las e a grelhá-las no quintal nas traseiras da casa, num fogareiro de lata que ele mesmo construira, à sombra de uma figueira que tão belos e doces figos nos deu. Os caracóis levou-me com ele, ensinando-me a apanhá-los das piteiras e das figueiras, deixando ficar os mais pequeninos: esses ficam para outra vez, dizia-me, para que cresçam e façam com que outros caracóis nasçam. Continuo a gostar das sardinhas, comidas à mão sobre uma grossa fatia de pão e que no fim vai à grelha para tostar e mais um prazer ao paladar oferecer, e dos caracóis; e sempre que umas ou outros à minha mesa acontecem lembro-me do meu avô a meu lado. Eu sei que não está. Mas é como se estivesse.
Como se já não fosse demais uma semana de covid eis que a minha hernia de estimação decidiu manifestar-se em toda a sua exuberância, voltando assim a acamar-me por mais uns três a quatro dias. Valeu-me, em ambas as situações o amigo Ben, sempre disponível para ajudar, acalmando as dores e o desconforto que estas doenças provocam. No caso de não o reconhecerem refiro-me evidentemente ao amigo BEN, el U-RON!
Jamais imaginei a possibilidade de alguém associar mostarda e maionese, à sardinha assada. E no entanto foi mesmo o que ouvi de um grupo de rapazes em volta de uma mesa improvisada num arraial cá do bairro. Não quis acreditar mas o facto é verídico. Ainda lhes disse que estavam errados, que aqueles molhos não combinam, que as sardinhas assadas são para serem comidas sobre fatia da pão, que a salada é com azeite e vinagre... Que não, que eu ainda vivo no passado e que "há que inovar e acompanhar os tempos". Desisti e fui "abancar" numa mesa afastada, antes de perder a vontade de comê-las à minha maneira. Mas numa coisa eles acertaram: bebiam vinho tinto e não cerveja nem leite (o que não seria inédito). Só peço uma coisa: manter-me lúcido quer para as sardinhas, quer para todas as ideias.