de súbito caiem-nos em cima, uma após outra, três semanas de dor, tristeza, revolta e raiva porque não estávamos à espera, porque consideramos que é uma injustiça, porque não queremos que aconteça apesar de sabermos que, mais tarde ou mais cedo, vai acontecer. Desta vez fui eu o escolhido e nem sei porquê pois normalmente e pelo que sabemos os escolhidos são (ou têm sido) seres tementes a Deus e a outras temências de que desconheço mais de metade.
Vamos lá ao cronológico da coisa começando pela última semana:
III
Hoje morreu o Jack (um caniche)! Depois de catorze anos vividos com os pais adoptivos (a Patrícia e o Nuno) e que sempre o acarinharam e lhe deram a liberdade necessária à sua condição, nunca lhe sonegando os passeios diários pelas redondezas e que ele aproveitava para se libertar dos produtos que quer o intestino, quer a bexiga, estavam decididos a expulsar e faziam-no com regularidade diária.
II
Na segunda semana e ainda não refeito da primeira foi-se o Abel, um amigo de muitos anos (+ de 40), que de manhã e do “lado de lá” do balcão me servia o café (bica para uns e cimbalino para outros). Não será difícil termos como amigo alguém que durante anos e todos os dias nos atura todas as manhãs; mas que sistematicamente o faça com um sorriso nos olhos e um jovial “bomdia” obriga-nos a (forçou-me a) olhar o Abel para além do balcão que, na verdade nunca nos separou; pelo contrário. E foi este amigo que se foi. Não estava doente mas pelos vistos não é imperativo estar doente para morrer.
I
Era uma tarde como outras. O sol brilhava, a temperatura não era muito alta e o vento timidamente fazia esvoaçar as muitas folhas secas caídas sobre a erva que ladeava os caminhos terrosos que percorrêramos de manhã e que agora repisávamos mais lentamente por carregarmos o cansaço do dia. À chegada alguém pergunta: vocês viram a Fernanda?
Olhámos uns para os outros (interrogativos e ar de meio aparvalhados) procurando uma resposta que ninguém tinha. As questões sobrepunham-se e as resposta não surgiam.
-Temos que voltar para trás;
-Temos que a procurar;
-Temos...
E fomos, e procurámos e nada de Fernanda. Até que alguém questionou:
-Mas ela foi connosco?
Atónitos e incrédulos afirmámos que sim mas, sinceramente, sem grande convicção. E a verdade é que ela não tinha ido connosco e ninguém tinha percebido. Na azáfama daquele passeio a pé preparado ao pormenor com meses de antecedência, nenhum de nós (nessa manhã) deu pela falta de uma amiga que na noite anterior nos dissera:
-Não me me sinto muito bem; vou-me deitar cedo. E foi!
Morreu durante a noite, acreditamos que calmamente sem perceber que morria.
Mas não é justo!
Não é justo perdermos amigos apesar de sabermos que nalgum momento os perderemos e, também, que nalgum momento eles nos perderão.
Com tantas semanas que há no ano para acontecerem coisas, tinham que me acontecer estas 3 em 3 semanas seguidas?
As primeiras gotas de chuva prenderam-se nas folhas verdes de uma vulgar planta de que desconheço o nome; nem sequer o que lhe foi dado pelo latim que entendeu chamar nomes a todas as plantas (e também aos animais) mas de modo a que os próprios não percebessem. Por exemplo uma alcachofra: diz o tal latim que é uma
Cynara cardunculus
Ora sinceramente, digam lá que mãe seria ela se fosse capaz de chamar à sua querida filha, recentemente brotada do seu caule, cynara cardunculus? Como se já não bastasse chamar-lhe cynara ainda por cima apelidá-la de cardunculus!Francamente!!
É por estas e por outras que nunca gostei do latim!
Podem não me levar a sério mas eu estou preocupado com a saída do UK da UE. E porquê? Porque temo que a concretizar-se a coisa eu tenha que dispor de mais €uros para adquirir os frascos de xaropes escocês e irlandês que tanto conforto me dão e tanto bem fazem à minha saúde.
E dizem-me: por cá também há bons xaropes, o de medronho por exemplo; eu sei, e gosto bastante de medronho, mas não é a mesma coisa!
É que uma pessoa habitua-se e depois...
A propósito vou tomar um dedal para mitigar a secura que este texto me provocou.
E a rosa que te dei Não foi criada num jardim Por isso tinha mais significado para mim A rosa que te dei Era uma terna e simples flor Que fez nascer em nós Um grande amor
Lembro-me de intelectuais eruditos nestas coisas das canções, apelidarem José Cid de só cantar coisascor de rosa. Por declarações destas não deixam esses tais de serem verdadeiros eruditos intelectuais das canções, mas também não deixa de ser verdade que ao menospresarem o artista (e consequentemente a pessoa) isso em nada favorece nem enaltece (pelo contrário) a vossa condição de intelectualidade nesta área, por mais erudita que ela seja.
Quantos artístas há em Portugal que componham (músicas e letras), cantando-as e tocando-as, e se mantenham actuais e aceites por uma grande maioria de pessoas que acorrem aos seus concertos sabendo de cor o que ele canta? E, não é menos importante sublinhar, tudo isto desde á décadas. Este EMMY é mais do que merecido e o que se pode acrescentar é que...já vem tarde; é merecido desde ontem, de hoje e... de amanhã!
Inopinadamente, na passada semana, fui invadido em simultâneo por amigos (que encontro irregularmente em separado, ou, dito de outra maneira, "à vez" ), e que acharam por bem juntarem-se e tirarem-me de casa para uma noite evocativa, uma réplica de há uns longínquos anos atrás (documentada em imagem) cujas memórias se misturam entre acordes mais ou menos musicais, diversos odores etílicos e fumaradas de incensos de origens variadas.Evidentemente que aceitei a proposta (não tinha nem desejava outra alternativa) e lá fomos decididos e dispostos a enfrentar a efeméride.
Faltaram as violas, felizmente, porque já nenhum tem unhas para tais instrumentos!
Comecei a gostar do fado quando tive idade e dinheiro suficientes para abancar à mesa numa casa de fados, ali paredes meias com fadistas à séria, inicialmente no chamado "Fado vadio", porque era cantado "pela vadiagem" que prolongava os dias pela noite dentro até à manhã dum novo dia. Hoje o (espírito do) fado não deixa de ser vadio ainda que vestido de sedas e lantejolas e cantado em salões nobres em vez de tascas e tabernas mal iluminadas. Sempre apreciei mais as fadistas do que os fadistas, sem pretender tirar mérito a estes. E das muitas fadistas que oiço destaco uma das que mais aprecio: desde a primeira vez que a ouvi fiquei apaixonado, pela voz e de como interpreta cada fado! (porque as paixões não se explicam, sentem-se, né?). Ana Sofia Varela.