Uma coisa nada tem que ver com a outra? De facto não tem!? Todavia...
Todavia, hoje e neste caso, tem! Hoje estive presente cerca de 30 minutos no banco de urgência num hospital público, numa consulta de otorrino. Durante todo esse tempo um dos clínicos (que decerto tem paixão por esses carros da VW) esteve consultando pela internet diversos sites onde estes veículos estão em venda. E o desejo era tanto que continuou depois de eu ter saído e que já vinha de antes de eu ter entrado. Evidentemente que eu nada tenho que ver com isso, né? Isso é lá com o clínico e com a gestão hospitalar ou o que seja. Porém se tal atitude tem como consequência obrigar doentes a permanecerem mais tempo do que o necessario na sala de espera para serem atendidos... então já tem "a ver connosco", né?
Por puro comodismo (e também porque posso -leia-se: porque tenho dinheiro no banco-) aceitei pagar despesas regulares, por débito directo, à minha conta bancária. Decerto que como eu, muitos mais o fazem sem que daí venham, até agora, abusos.
Nestes últimos dias recebi quer por e-mail, quer por carta (em papel como antigamente), "pedidos" de confirmação/aceitação de novas regras sugerindo que o não aceitação das mesmas implicaria deixar de receber isto e mais aquilo(comunicação de campanhas de produtos e serviços, não relacionados com o contracto de fornecimento de energia), etc., etc.! Porém com a seguinte particularidade, e que mais me deixou preocupado: "a empresa cederá os dados pessoais dos clientes (eu, no caso), aos operadores associados..."! E é aqui que a porca torce o rabo porque os meus dados pessoais só devem ser conhecidos (e limitados) a quem, quando e se forem absolutamente necessários. As entidades que me fornecem água, electricidade e acesso à internet só têm que saber onde lhes possibilito a cobrança dos respectivos serviços, porqueé só mesmo para isso que lhes forneci os meus dados pessoais. Ir além disto é abuso de confiança. Dizem-me: é pá isto agora está tudo ligado. Pois que esteja! Todavia estas mesmas entidades responsabilizam-se efectivamente pela proteção dos dados de terceiros (os nossos), ou em caso de invasão (hackers e outros) sacodem a água do capote?
É noite escura! As nuvens descarregam chuva em grossas bátegas que ressoam nas vidraças. Já passou o Inverno e no entanto ele ainda mora lá fora (e às vezes também cá dentro). A sala vive uma penumbra acolhedora. Verto no cálice uma dose generosa de whisky de malte (Balvenie no caso) e
recosto-me no sofá segurando o livro aberto a meio do primeiro capítulo sem saber ainda bem quem são e como serão as personagens que dão vida ao enredo e, consequentemente, à existência dele (do livro). Concentro-me: há uma mulher jovem, um homem trintão com um filho adolescente, a mulher dele e mãe deste que fugiu com um motorista de taxi, o senhorio da jovem (que lhe quer cobrar a renda do T0 entre os lençois da cama dele (ou da dela, tanto lhe faz), o dono da peixaria dos congelados que mora no andar de cima (e que também prefere uma febra jovem em vez duma posta de pescada do chile), a vizinha do rés-do-chão (uma viúva ainda dentro do prazo de validade) de fartos peitos e largas ancas acentuadas pela cintura estreita, um taberneiro de esquina (local onde decorrem torneios de sueca e que não poucas vezes acabam à chapada), e um sapateiro, coxo, (ainda do tempo das "meias-solas"), actualmente vendedor de cautelas e de raspadinhas, que passa os dias encostado ao balcão da taberna bebendo copos de tinto e reclamando da vizinhança por calçarem ténis em vez de sapatos. E ainda o adolescente que não se cansa de espreitar a jovem que habita o T0. Da escada ressoam vozes dos vizinhos que chegam da noite, decerto bem comidos e melhor bebidos a avaliar pela gritaria. A Migas manifesta-se ladrando às vozes que soam. Desconcentro-me. Bebo um gole de malte. E outro mais para evitar deixar o cálice sujo. Já é tarde. Não muito porém sinto-me adormecido e, consciente de que o sofá não é hoje a melhor cama, levanto-me, fecho o livro e caminho para o quarto. Amanhã talvez comece ler o segundo capítulo.