Bela e sedutora, que não se vê porém sente-se (deáfona, diria). Todos os anos é a mesma coisa: aparece sem avisar, deixa-se ficar como se a casa fosse a sua e, tão depressa como chegou assim se irá embora, sem qualquer aviso de véspera e sem um simples acenar de despedida.
Este ano repetiu-se a cena: chegou e abancou-se!
Bem sei que devemos estar receptivos a acomodar familiares -de quem até gostamos e estimamos- mas ao menos uma palavrinha de véspera, né?
-Chego amanhã, por exemplo.
Mas não! Aparece sempre por estas alturas, quase sempre radiosa e perfumada, alternando humores entre chuvas de lágrimas e perfumados suspiros, mas nada que perturbe o convívio.
Sabemos (sabemos todos, ela e nós) que abalará de um dia para o outro, sem sequer se despedir; continuamos contudo sempre dispostos a recebê-la e de braços abertos porque, venha ela como vier, todos gostamos da chegada da Primavera.
Mas bem vistas as coisas o que elas têm são dias, todos os dias, que lhes ocupam todo o seu tempo. Hoje é somente mais um dia independentemente dos motivos comerciais organizados cujo objectivo não foi propriamente a exaltação da mulher.
Todavia a data de hoje (e isso é o que mais nos importa) coincide com dia de aniversário da Teresa (a Tété) que connosco conviveu neste bairro blogosférico quer com os seus textos, quer com os comentários com que nos visitava, quer ainda com a sua presença física nos almoços que partilhámos como por exemplo, este:
Sempre fui mais de celebrar nascimentos e chegadas do que referir despedidas (de todas as despedidas). E também por acreditar que enquanto formos lembrados continuaremos vivos, quero com este texto, celebrar o teu aniversário, sem bolo nem velas porém com o carinho de uma amizade que passou de virtual a real.
Ela olhou-me, levantou levemente as orelhas e sentou-se, não num gesto de indiferença à questão mas sim no sentido de: não te estou a perceber.
Lá lhe expliquei a nova lei que permite aos humanos levarem os animais de companhia e/ou de estimaçõn (ainda que nem sempre muitos estimados) para esses locais de satisfação culinária, coisa que antes não era permitida. Escutou-me atentamente, (veja-se a foto) mas não pareceu convencida; virou-me as costas (melhor dizendo: o rabo) acercou-se da malga da ração de onde retirou uns dois ou três pedaços que mastigou no kerreck kerreck costumado e foi-se deitar no sofá onde habitualmente se deita quando pressente que vai ficar sozinha em casa. (é verdade, às vezes fica sozinha).
Não me parece assim muito descabida esta permissão porém porque nem toda a gente se "dá bem" com animais e há sempre quem ache que tem direito a tudo (veja-se o caso das passadeiras para peões que são tidas -erradamente- como continuidade dos passeios) a lei deveria ser mais explícita quanto mais não seja porque há quem tenha cães, gatos ou piriquitos mas também há quem possua cobras e lagartos, ou até (sabe-se lá) cabras, porcos ou (imagine-se) chitas, leões ou elefantes. O facto da permissão depender da vontade dos donos dos restaurantes não invalida atritos e confusões tanto por parte dos donos dos animais como dos restantes clientes etc., etc.
Parece-me que a vontade ser inovador ofusca a falta de condições para o ser. Antes de mais falta-nos a sensibilidade de gerações em que os animais deixaram de ser considerados como coisas mas sim como seres vivos e com necessidades próprias (ver o caso inglês, por exemplo).
Mais uma vez os nossos legisladores (que nunca sabemos quem são) meteram a carroça à frente deixando-se ficar -perdão- deixando as bestas ficarem lá atrás.