Parece que não há Natal em que não surja a sacrosanta pergunta:
-Acreditas no Pai Natal?
-Se eu acredito no pai Natal? Já acreditei e depois não acreditei e agora “tem dias”!
-Porquê? Achas que o gajo existe mesmo?
-Evidentemente! Queres uma prova disso? A prova é esta:
Apesar da sacana da crise dispus-me a comprar presentes para familiares e amigos com a ideia de fazer um Natal à antiga, ou seja, toda a gente deixando um sapato na chaminé e por ali foram espalhadas as prendas, cada uma com o nome do destinatário, tudo muito organizado para que (por exemplo) o body transparente não calhasse à avozinha caquética em vez de à Irina Katrinoveva, a ucraniana auxiliar de tarefas domésticas.
Neste caso e na falta de uma verdadeira chaminé, ficou a cozinha “cheia” de sapatos, fechando-se a porta respectiva e deixando semi-aberta a minúscula janela junto do exaustor para que o pai Natal pudesse entrar e sair, (apesar da sua enorme barriga).
E para evitar “tentações nocturnas” guardei eu a chave.
Num ápice chegou a manhã de Natal.
Chiça, (foi o meu primeiro pensamento), já é dia?
Mais coisa, menos coisa, e depois de algum engarrafamento junto dos dois WC’s, abri a porta da cozinha para… para ver-mos os papéis coloridos que embrulhavam as prendas, espalhados pelo chão; das prendas nem rastro.
Tudo desapareceu: as peúgas de lã do avô Manuel, a camisa de noite, de flanela, da avó Maria, o portátil que eu me ofereci, o lenço de seda da prima Josefa, os brincos e o anel da minha mulher, etc., etc.! Até o body da ucraniana e ainda dois sapatos de salto alto de pares diferentes e também uma bota do avô Manuel e um ténis dos meus.
À laia de troca, encontrámos no meio dos papéis de embrulho um par de botas já muito gastas e duas meias listadas branco e vermelhas, tão rotas que só cobririam o calcanhar o tornozelo e pouco mais.
-Òh mãe onde tá a consola de jogos?, berrava o André de 11 anos, filho da Josefa.
-Sinhôr, Sinhôr, a meu body? Onde é a meu body?
-Shiu… como é transparente não se vê, mas depois eu mostro-te! (porque no te callas?)
Conclusão: que o pai Natal passou por cá, passou!
Deixou prendas? Não! Levou-as!!!
É por isto que depois deste Natal sempre que me perguntarem:
-Acreditas no pai Natal?
-Sim; agora tem dias em que acredito!
nota importante: que eu saiba, nada disto não aconteceu!
nota mais ou menos importante: qualquer semelhança com alguma realidade parecida com este pai Natalnão será mais do que uma coincidência.
nota muito importante: se acontecer não tenho quaisquer responsabilidades no caso!
E ninguém tem nada com isso! Porque não lhe acho piada nenhuma nem percebo tanta euforia das pessoas numa correria para tudo quanto é loja, para comprarem coisas de que gostam para oferecerem a quem até pode nem gostar do raio da prenda. É que até parece andar tudo doente numa sofreguidão colectiva. Mas não é o meu caso. Eu prefiro que me deixem sossegado, e se fosse possível que nem se lembrassem que eu existo. Mas não tenho sorte nenhuma. Há sempre alguém com ideias que considera de bom gosto e não me deixa em paz. Sobretudo, nem me falem num Natal recheado de coisas boas!
E escusam de vir com a treta do costume:
-Gostamos imenso que estejas presente à mesa da consoada.
Dispenso! Detesto o Natal! Não me falem no Natal! Irra!
Há certamente quem não se lembre dos bancos (dos que guardam dinheiro) com balcões de atendimento espalhados por variados locais e onde “a gente” tinha que ir para sacar uma parte ou a totalidade do dinheiro (do nosso dinheiro) que lá tínhamos depositado, preenchendo um cheque, apresentando-o ao caixa, e mostrando o BI para ele ver que éramos o próprio.
É verdade que havia quem nem para abrir conta num banco tivesse dinheiro, mas isso é assunto para outra postagem; para outros lamentos!
Chegado o tempo dos “buracos nas paredes, as atm’s” os bancos ofereceram cartões (mediante anuidades cujos valores foram aumentando), permitindo o levantamento de dinheiro onde quer que houvesse uma atm e com isso possibilitando-lhes diminuir o número de trabalhadores e, consequentemente, das inerentes despesas.
Também comprar com esses cartões era uma facilidade, sobretudo porque beneficiavam de uma comissão sacada a quem aceitava vender e ser pago com cartão.
E a coisa era tão boa que permitiu ganhos aos bancos mas também a uma nova entidade que foi constituída propositadamente para emitir/conceder os tais cartões.
Ou seja, ganhavam (ganham) todos com o dinheiro que não é deles.
As gasolineiras tanto deram ao rabo que conseguiram que sejam os consumidores a pagar uma taxa para abastecerem as viaturas, mas não os vulgares comerciantes e nem os consumidores, que não têm a força daquelas para fazer valer os seus objectivos.
Surpreendentemente (ou talvez não) no caso de um cartão ser perdido ou roubado e usado fraudulentamente, os bancos não assumem quaisquer responsabilidades.
Os tempos mudam e com eles aumentam os interesses (gananciosos) bancários que não contentes com o que ganham com o dinheiro dos depositantes procuram outras formas de mais lucros obterem, cavando e esgravatando até ao osso, numa avidez sem limites.
Não é que pense serem os banqueiros uma espécie do camponês que Esopo* retratou e cuja avidez o levou a matar a galinha dos ovos d’oiro. Mas pelo meu ponto de vista não deixa de haver uma certa similaridade nesta nova casta de tios Patinha, a quem já não basta mergulhar no dinheiro que possuem; o lucrarem com o dinheiro dos outros sem olhar a meios, é-lhes vital para a sua existência.
Até ao dia em que (tendo os que lucraram, os seus lucros bem guardados) já não haja por onde espremer.
*uma ligeira referência erudita para que isto não se resuma num simples lamento discordante pela forma (e conteúdo) de como a sociedade está a ser conduzida.
este provérbio popular português aplica-se na íntegra a Nelson Mandela, pois foi de facto um Homem completo no pensamento e na defesa das suas convicções. E teve a felicidade de viver o tempo minimamente suficiente para ver cumpridos (pelo menos) parte dos resultados dos propósitos a que dedicou (quase) todos os seus dias.
Num mundo cujo principal (e único objectivo?) é o lucro imediático, independentemente de como é obtido, Nelson Mandela foi capaz de ir mais além e apontar outro caminho. É ele a principal figura do século XX? Não sei, mas sei que é seguramente uma delas, tal como foi Ghandi, por exemplo. E não é possível pensar em Mandela sem recordar a sua declaração em tribunal, de onde resultou a prisão a que foi condenado.
Disse: "Sempre sonhei com o ideal de uma sociedade livre e democrática, na qual as pessoas possam viver juntas em harmonia e com igualdade de oportunidades. É um ideal pelo qual espero viver e, se for necessário, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer".
Uma grandeza de espírito que não assiste a todos os que têm algum poder mas que (pelo menos) deveriam tentar.
Há 373 anos que mataram o Miguel de Vasconcelos, segundo consta escondido dentro de um armário, sendo depois atirado janela fora ao encontro do lagedo do Terreiro do Paço, (baptisado depois como Praça do Comércio), onde a populaça o voltou a matar com uma carga de porrada que o deixou ainda mais morto.
Corrida que foi a monarquia espanhola voltou a realeza portuguesa de que D. João IV foi o primeiro rei da 4ª dinastia.
Estou eu (que nem sou monarquico), a escrever sobre isto, porquê?
Porque me deu na bolha (uma razão tão boa como qualquer outra, na minha perspectiva) e também porque me lembrei de ser este dia um feriado nacional que foi instituido precisamente para assinalar um acontecimento importante no crescimento e na identidade de um país.
Mas, pasme-se: um governo decidiu que isto seria uma espécie de "mariquice" institucional e decretou eliminar esta data como feriado nacional e que quem quiser celebrá-lo que o faça no domingo seguinte. Ou, quem sabe, numa outra qualquer data de Dezembro ou de Julho ou de Agosto.
Surpreendeé ouvir declarações de ministros a propósito da recuperação da economia, exaltando o contributo das exportações (até falam em milagres), esquecendo porém os quatro feriados que deixaram de o ser precisamente para aumentarem a produção nacional!
Lembro-me do que me disse um amigo: não é só no circo que há palhaços...
E ele, que trabalhava num circo, sabia do que falava: era Palhaço!