AS VIZINHAS (I)
Por motivos vários (que não drásticos) não me tem sido possivel passar por aqui para dar um alô aos amigos, o que continuará sucedendo durante a próxima semana!
Vou, consequentemente, manter-vos livres de me aturarem por mais uns quantos dias!
À laia de despedida deixo-vos este texto cuja autenticidade não é garantida.
Quaisquer semelhanças com factos e/ou pessoas reais é mera coincidência (acho!)
Ocorre cedo numa qualquer manhã ensolada de início de verão.
-Olá, vizinha, bom dia …
-Bom dia, vizinha! Como está?
-Estou bem, isto é, estou um pouco cansada, sabe? Já não tenho idade para “isto”…
-Não?! Para isto o quê?
-Ora, como lhe hei-de dizer, para …, olhe para o meu marido que só pensa e só quer “aquilo”!
-Aquilo?!!, Ah “aquilo”. Pois é, parece que eles só pensam n’aquilo…
-Ai vizinha, às vezes só me apetece ficar a dormir todo e dia e toda a noite.
-Olhe, eu nesse assunto estou descansada; o meu marido chega sempre tarde e nem se lembra de me tocar.
-Ora pois; então não é ele que “anda” com a Claudina…aquela que vende na praça?
-Pois é! E pensa que eu me preocupo com isso? Era o que faltava. Que ande desde que não me apoquente. Só de pensar naquele monstro em cima de mim, fico logo arrepiada.
-Mas a vizinha não se importa?
-Eu não! Tomara eu que ele nunca mais “viesse” com aquelas mãos ásperas e sapudas apalpar-me as mamas, todo dengoso, à espera de cinco minutos bem passados (mal pas-sados para mim), para depois ressonar toda a noite que nem um porco.
-Ai, vizinha, nem sei como é capaz de dizer isso…! Então a vizinha não gosta…?
-Eu gosto, mas com o meu marido já me dá vómitos. Ele chega “ali”, bombeia, bombeia e passados instantes, zás, já está; e eu ainda nem tinha começado. Percebe?
-Bem, lá isso…, é que o seu marido é assim, como dizer…
-Diga, diga… é uma besta! Pensa que eu não sei…?
-Pois ele é assim um bocado para o pesado…
-Pesado? É um hipopótamo, é o que é!
-Pois é; é muito gordo…
-Jeitoso é o Carlos..
-Aquele do talho?
-Esse mesmo; aquilo é que é um rapagão…
-Pois é, e sempre simpático com a gente…
-Sabe lá! Às vezes até vou lá comprar qualquer coisa só para o ver…
-Ai sim?
-Pois! E então quando ele me pergunta: a vizinha quer o quê?, uma carninha tenra, ou uma assim mais macia e rijinha?! -Olhe que até fico com calores…
-Ai ele diz-lhe isso? Que abusador.
-Qual o quê!! Eu já tenho pensado em aceitar desde que ele lá fosse a casa entregá-la!
-Credo, vizinha!
-Porquê? Ora essa, desde que fosse “de boa qualidade”, qual era o mal?
-…
-Ele levava a carne e eu dava-lhe a panela! Garanto-lhe que seria um bom cozinhado.
-Deus me livre, vizinha. Eu era lá capaz de uma coisa dessas…
-Ora…
-Sabe a vizinha, à noite eu estou na cama vendo a novela e o meu marido fica na sala e ver aqueles filmes de dar de corda e quando vem para a cama, olhe, já vem todo entusiasmado para aquilo; às vezes nem tenho tempo de tirar os óculos que ele já pronto! E, claro que começa logo na função.
-Oh vizinha, que coisa…
-Ora, mas também despacha-se logo. Até parece que já vem com o serviço feito!
-Mas, diga-me lá, de que filmes está falando?
-Eu nunca vi, mas ele diz que dá de corda, sei lá eu o que é!!
-Dá de corda? Mas…
-Pois, é à noite e…
-Ah, já sei. É daqueles que se vêm todos naquilo…
-Naquilo? Verdade?
-Pois! Os homens parecem gostar muito de ver; as gajas todas nuas mais os gajos e a fazerem de tudo. É uma vergonha é o que é! São todas umas putas…
-Ai vizinha, não me diga.
-Digo, digo!
-Nossa senhora, como está este mundo.
-Mas olhe que também há mulheres que gostam de ver. Nem sei porquê.
-É verdade? E vêem?
-Vêem, vêem. São umas porcas, é o que é. Eu, por mim, gosto mais de fazer mas agora só com um belo mocetão. Oh, oh!
-Não me diga…
-Digo e faço. É só calhar, vai ver. Sim que eu ainda me sinto, olá se me sinto…
-E o seu marido?
-Ele quer lá saber. Tem a Claudina para o que precisa. Há mais de dois anos que ele não se me chega. E ainda bem, que eu já nem estou para aí virada. Agora o Carlos…
-E ele sabe?
-Ele quem? O meu marido?
-Não, o Carlos.
-Se ainda não sabe vai ficar a saber. Alguém lhe há-de dizer, não é vizinha?
-Eu? Oh vizinha, que horror…
-Pois sim; mas não se preocupe. Nem que seja eu mesma a dizer-lhe, ele há-de saber.
-E depois?
-Ora, depois…! Depois vamos à função e hei-de esmifrá-lo até não puder mais. É que, vizinha, ando cá com umas vontades que a vizinha nem sonha.
-Bem, vizinha, vou andando que tenho o almoço para fazer. Até logo vizinha.
-Eu também tenho que ir. Olhe, vou aproveitar para ir comprar uns bifes. Ou quem sabe, umas salsissinhas frescas para o lanche. Até logo vizinha… Ai, Carlos Carlos, hoje é que vai ser ou não me chame eu Ausenda…!!!