UMA CARTA AO PAI NATAL
Pai natal, eu gosto muito de ti. Tu és bué da cool.
Eu quero que me dês muita coisa neste natal porque eu sou muito bonzinho e faço tudo o que os meus pais querem e também faço o que eles não querem que eu faça, mas eu faço.
Tens que me dar uma play station 4 mas sem o meu pai saber para o gajo não ma tirar para jogar sozinho.
E também quero daqueles jogos que se vêm gajas nuas.
E quero que me dês um comboio electrico e quero que me dês outro comboio electrico daqueles que fazem muito barulho e deitam muito fumo que é para chatear a velha da minha avó que tem asma e que tósse que’mó caraças cada vez que há fumo lá em casa.
E quero uma pista de carros electrica, já avariada, que é para enganar o meu pai que eu já sei que não me deixa brincar com ela, se estiver boa, que é para eu não a estragar.
E quero também daqueles ratos de corda, que parecem mesmo ratos verdadeiros, que é para assustar a empregada cá de casa que se farta de gritar quando vê baratas e que quando vê ratos sobe para as cadeiras e levanta as saias e o meu pai começa logo a gritar:
-Olha ali outro! Olha ali outro…
E quero também um martelo, daqueles martelos que são mesmo martelos, que é para martelar nas cabeças das bonecas da minha irmã Vanessa, e que ficam todas torcidas e com os olhos todos de fora e a minha irmã Vanessa farta-se de gritar:
-Oh mãe, olha ele! Oh mãe, olha ele…!
E também quero um urso de peluche, daqueles ursos bué de grandes, que é para eu rebentar em cima da alcatifa e ficar tudo cheio de espuma e serradura que é para a minha mãe ficar chateada e ao berros com toda a gente, e a minha avó começar logo a tossir e a urinar-se, e a minha irmã a chorar, e o meu pai a sair da casa de banho em cuecas e mandar todos à merda, e a empregada com a vassoura e a pá nas mãos, e eu à rasca para abrir a porta e basar…
E quero muitos rebuçados e caramelos daqueles que se agarram à placa da minha avó e que depois ela se vê à rasca para mastigar.
E também quero muitos berlindes para os espalhar todos pela casa que é para toda a malta se estatelar ao comprido e dizeram asneiras uns aos outros.
Muitos beijinhos para ti e para as tuas renas.
E se não me deres tudo o que eu peço já não gosto de ti e quero que as renas te dêm uma grande marrada e tu caias pelas chaminés abaixo e que tu te lixes e que partas os cornos.
Afonso Bernardo