VÍCIOS PARALELOS, SORTES TROCADAS
ilustração de um quadro de Cezane.
Daniel é um gajo com pinta. Sempre bem vestido, penteado e perfumado passeia-se todas as noites pelas salas do casino exibindo os seus belos olhos azuis (há quem diga que são lentes de contacto), atraindo os olhares do mulherio que não resistindo à sua presença, não conseguem evitar mirá-lo, gulosas que nem crianças atraídas por chupa-chupas. Jogador de todas as noites, não há uma vez que não acabe ganhando, seja na roleta, nas cartas e até nas máquinas. Tem mais sorte que o Gastão!
Por seu lado, o Cosme é um azarado. Nunca teve uma namorada por mais de hora e meia, foi despedido de mais de uma dúzia de empregos e o único onde o aceitaram por quase seis meses foi à falência quando o director se pirou para o Brasil com a “bagalhuça” da empresa. Vive só, numas águas-furtadas de um prédio abandonado e safa-se fazendo uns biscates de canalizador para as velhas que moram nas redondezas.
Joga sempre que pode, nunca ganha nada em jogo algum; nem às moedas!
A roda da vida juntou-os em final de noite num casino clandestino, no momento em que eram escolhidas parcerias para um jogo de cartas, de apostas ilimitadas.
O Daniel foi à confiança, evidentemente.
O Cosme foi a medo, mas foi.
Terminada a primeira hora de jogo, a parceria Daniel/Cosme estava nas “lonas”. O caro relógio em ouro do Daniel estava sobre a mesa pronto a ir para novo dono. E foi!
Confiante na sorte que nunca o tinha abandonado antes, e decidido a recuperar tudo o que tinha perdido, o Daniel lançou uma aposta final:
-Aposto que eu e o meu parceiro, nós temos 5, repito nós temos 5 colh…, testículos!
Desconfiado mas esperançado o Cosme acrescentou baixinho:
-Se tu tiveres quatro já ganhámos…