BOLOS COM CREME
Paro o carro mesmo em frente ao café, em cima do passeio, e saí sem me dar ao trabalho de trancar a porta. São sete horas da manhã!
Entro na pastelaria e peço: uma torrada e um chá.
Sento-me.
Ao lado está a montra dos frios onde rodopiam uns bolos abarrotando de cremes: chocolate, chantilly e doce de ovos.
Estes últimos até parecem estar doentes.
Estão todos com uns enfeites retorcidos exibindo fotografias acompanhadas de letras desenhadas. Todos desejam parabéns a alguém.
Aguardam pacientemente.
Sabem que não podem fugir ao destino que lhes foi traçado assim que entraram no forno.
Chega a minha torrada e o meu chá!
Chega também uma cliente gorda com três dobras de gordura à volta do que terá sido a cintura.
Ao colo um cão minúsculo, de olhos salientes, que rosna para tudo e para todos.
De olhos esbugalhados para os cremosos bolos, a gorda começa a babar-se.
E grita:
-Òh Sr. Carlos, quero dois duchaises… não não, é melhor três duchaises e depois traga-me um croissant com creme e um copo de café com leite. Mas com adoçante.
Não aguento mais nada.
Saio rapidamente da pastelaria tossindo desenfreadamente por me ter engasgado com a torrada enquanto pelo nariz esguicha uma porção do chá.
Fico completamente congestionado sem conseguir respirar.
Deixo de ver.
Sinto-me desfalecer lentamente.
Caio mas já nem sinto dor quando a minha cabeça bate no passeio.
Apago-me.
Ainda oiço o Sr. Carlos dizer:
-O gajo nem pagou a despesa…