Se acreditarem muito, isto é 1 poema!
VENDO…[1]
Vendo uma tristeza de hoje,
Vendo uma alegria com dois dias;
Vendo uma mágua de anos passados,
Vendo um desgosto de todas as horas,
Vendo o que por mim passa,
Vendo o que me trespassa,
Vendo o que me ultrapassa,
Vendo o que me desgosta,
Vendo o que me encanta,
Vendo o que me espanta,
Vendo o que me “mata”,
Vendo o que me dá vida,
Vendo o que me entristece,
Vendo o que me aborrece,
Vendo o que me alegra,
Vendo o que me acorda,
Vendo o que me adormece,
Vendo o que me faz sonhar,
Vendo o que me faz chorar,
Vendo o que me faz rir,
Vendo o que me sorrir,
Vendo o espelho que me reflete,
Vendo tudo isto e mais aquilo,
Também vejo que vou morrer!
Nada posso fazer, nem tenho medo!
Mas tenho pena;
Tenho pena de deixar quem gosto,
De deixar o que gosto,
De deixar o mar, o campo, os cheiros e os sabores,
Os voos dos pássaros e o mugido das vacas pastando no campo,
Das lembranças dos ralhanços que ouvi em criança,
E dos que eu próprio disse a outras crianças,
De nadar no mar todo nu!
De roubar figos à noitinha na quinta da vizinha,
Das amoras que comi e do vinho que bebi,
Dos amores que vivi e dos que morreram em mim,
De tudo tenho pena. De tudo tenho saudades.
Mas vendo bem… tudo valeu a pena.
Mas morrendo … tenho pena!