A PERGUIÇA
Chegou-me com o ano novo, de mansinho, surrateira, como quem não quer a coisa e tungas: encostou-se-me e ficou-se-me!
E o pior é que eu sei e não gosto nem a quero, mas a gaja agarra-se e até que se liberte é do caraças! Eu bem que a empurro, sacudo-a, abano-a, mas qual quê! Parece uma lapa!
Quero pensar em escrever qualquer coisita e nada; nem fumo sai deste minha minúscula cabeça.
Assim, fui ali ao baú buscar umas palavras, estas:
PALAVRAS
As palavras que me faltam,
As que não vejo nem oiço,
São as que mais vezes te digo,
As que sempre vou repetindo,
Em todos os meus pensamentos,
Em todos os meus momentos,
Por entre risos ou tormentos!
Por não ser assim tão letrado,
E mais não ter aprendido,
Fico sentado a teu lado,
Com ternura,
Apaixonado,
Aos teus encantos rendido.
Tu não me vês nem me ouves,
Mas sabes que eu existo;
Olha-me que seja uma vez
E sente o que eu nunca te disse!